segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Sim que era para ser Não


Impressionante como o assunto felicidade é constantemente falado, estudado e até usado como Índice de Desenvolvimento por alguns países, é a FNB - felicidade nacional bruta. Mas, também muito se ouve falar na dificuldade em dizer não. E da forma como a entendo, saber dizer Não na hora certa, como por exemplo, nas vezes que dissemos Sim querendo dizer Não, contribua para o aumento da nossa felicidade. Além da distorção da auto-imagem que prejudica a auto-estima, como em artigo anteriores citados, Spitz acredita que a inclusão e uso do Não na linguagem ocorram por volta de um ano e meio de idade. Esse fato coincide com a fase do desenvolvimento no qual a criança, para se enxergar como ser distinto dos outros, principalmente da mãe, fala de si na terceira pessoa.
“Para René Spitz, a aquisição da capacidade de dizer “não” é um grande evento da primeira época da vida que capacita a criança a dialogar.” Mas, aos 2 anos de idade nem sempre quando ela diz “Não” significa que discorde. O “Não” teimoso da criança afirma que mesmo que ela aceite e obedeça, está fazendo por sua própria vontade. Muitos adultos ao dizer “Não” querendo dizer sim, podem estar, inconscientemente, ainda vivenciando essa fase do desenvolvimento. Como vocês podem perceber o “Sim” e o “Não”, para quem sabe ouvi-los, pode ser um indicador psicológico valioso. Porém, não deve ser confundido com o “Sim” e o “Não” objetivo que designam o querer e o não querer, referindo-se a volição de alguma questão tratada. Refiro-me ao “Sim” e ao “Não” subjetivos, que expressam uma disposição de quem fala, pouco levando em conta se está sendo afirmado ou negado algo. Nestes casos, o “Sim” pode ser uma covardia, ou seja, concorda-se para evitar o confronto e seus inconvenientes. Falar “Sim” no lugar do “Não” pode trazer aquela confusão da primeira infância, na qual me confundo com o outro, perco de vista quem sou, mas em compensação evito perder o amor, a amizade, a benevolência e a simpatia do outro. Essa necessidade narsista de ser amado faz com que nos importemos mais com o outro do que com nós mesmos. Essa covardia em dizer “Não”, dizendo “Sim”, leva-nos a perda de nós mesmos e conseqüentemente pode levar a explosões violentas, espalhafatosas para mostrar que tenho existência, penso com a minha cabeça, tenho sentimentos e desejos e não me confundo com o outro. O “Não” subjetivo normalmente é um grito de independência, uma fala de alguém livre que exerce seus direitos, é segura de si por que se sente amada e, principalmente, se ama.
“Spitz tinha razão, o uso do “Não” e do “Sim” permitem o diálogo humano, mas que nem sempre tem a ver com as questões que estão sendo discutidas”.


(René Spitz (1887 – 1974) nascido em Viena ele iniciou a profissão como médico, mas rendeu-se a psicanálise e foi o primeiro a investigar sobre a Psicologia infantil)


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domingo, 8 de novembro de 2009

Transtorno Mental



O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (Ipq) realizou um estudo na região metropolitana de São Paulo com 5.037 residentes dos 39 municípios da região. Foram excluídos moradores de rua, pessoas que vivem em instituições e presos. Esse estudo mostrou que 45% dos residentes já tiveram ao longo da vida algum transtorno mental, sendo o mais freqüente o grupo que compõem os transtornos de ansiedade, como estresse pós-traumático, fobias específicas e transtorno de pânico, com 28% dos casos. Os principais sintomas são: Sensação de medo e apreensão constante; sensação de pavor, de morte eminente; sudorese; ondas de frio ou de calor; dor de cabeça freqüente; insônia; sensação de boca seca; problemas gástricos (náuseas e indigestão); visão turva; sensação de insegurança e de incapacidade. Lembrando que para caracterizar o distúrbio é necessário apresentar pelo menos três sintomas durante 15 dias consecutivos.
A prevalência dessas doenças no mundo segue taxas mais baixas do que as apresentadas em São Paulo. Uma explicação para isso seria a “alta competitividade e expectativa social que são maiores em megalópoles do que em cidades menores”. As fobias específicas aparecem em segundo lugar com 12,4%, seguida de abuso e dependência de álcool e drogas, exceto tabaco com 11%. E ainda 7% apresentam transtorno de controle de impulso. Ou seja, conduta de oposição e desafio (não se adapta em nenhum ambiente), explosivo intermitente (crises de raiva, agressividade) déficit de atenção e hiperatividade. Os principais sintomas são a impulsividade, alta reatividade a situações e agressividade.
Mas isoladamente a depressão foi a doença mais prevalente com 18% dos avaliados. O transtorno de humor compreende a depressão maior ou leve, ciclotimia (oscilação de humor leve), transtorno bipolar e mania (humor elevado, euforia) e seus sintomas são: Alteração de humor (depressão ou euforia); alteração psicomotora (agitação ou apatia) e variação no biorritmo (sono apetite). Ainda de acordo com o estudo, as mulheres sofrem mais de depressão do que os homens. Uma em cada quatro mulheres manifesta o problema contra 11,3% dos homens. Todavia a doença incapacita mais aos homens, seja em relacionamentos, na vida social, no trabalho ou mesmo em atividade em casa. A incapacitação é maior quanto mais precoce apresenta-se a doença.
O mais preocupante é o suicídio que entre os homens é três vezes maior do que entre as mulheres e uma das principais causas do suicídio, com 35,8% dos casos, é exatamente a depressão. Também devemos considerar que dentro dos 22,4% dos que abusam de substâncias como álcool e drogas e cometem suicídio, poderemos encontrar alguns depressivos. “Os homens são mais agressivos e impulsivos do que as mulheres”, eles sabem lidar menos com os problemas do que elas e envolvem-se mais com bebidas e drogas muitas vezes mascarando os sintomas da depressão.





Dados retirados do jornal Folha de S.Paulo do caderno Saúde de 04 e 07 de novembro de 2009, reportagens de Juliane Silveira

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dias dos mortos


Porque no dia de hoje os cemitérios lotam, todos querem ir visitar seus mortos?
Nos finados o Serviço Funerário de São Paulo prevê que cerca de 2 milhões de pessoas visitem os 22 cemitérios e crematório municipais. Entendo que essas visitas fazem parte do processo de enlutamento, mas porque só hoje? “O luto é um processo, não um evento”. É um processo mental, é uma reação normal a uma perda significativa de um objeto (coisa ou pessoa) amada. O luto é um sentimento de pesar e tem diferentes formas de expressão nas diversas culturas. Como Maria Helena Pereira Franco coloca, “falar de luto é falar de nossas possibilidades de fazer, desfazer e refazer laços”.
O luto não é vivido e resolvido num único dia. Não ocorre, principalmente em um dia elegido e especificado para todos. Para Freud(1916), o luto é um processo longo e doloroso, que acaba por resolver-se por si só, quando o enlutado encontra objetos de substituição para o que foi perdido. Mannoni (1995) coloca que o processo de luto consiste no desinvestimento de afeto a um objeto e que esse processo se torna mais difícil à medida que parte de si mesmo se vê perdida no objeto. Ou seja, quando a pessoa se perde no outro. Funde a própria personalidade ao objeto amado, não se distingue do outro.
Apesar de não podermos ser rígidos com o que se deva ser experimentado no luto, Kaplan (1977) expõem fases do processo de enlutamento. Freqüentemente o luto inicial manifesta-se por um estado de choque, topor ou atordoamento, mesmo que temporário. Depois o processo passa a ser de rememoração de cenas agradáveis e desagradáveis. Todo esse processo pode ser acompanhado com graus variáveis de desinteresse pelo mundo exterior e com tristeza, que vão diminuindo conforme o processo avança. No final, a pessoa perdida passa a ser apenas uma lembrança, o sentimento de tristeza desaparece e a vida afetiva retoma seu curso voltando a ser possível novas ligações afetivas.
Além destes sentimentos, podemos encontrar sentimentos desorganizadores e assustadores como o choque, a raiva, a hostilidade, a solidão, a agitação, a ansiedade, a fadiga. Sensações físicas como vazio no estômago e aperto no peito podem ocorrer ou não. Pensando a respeito da família, o luto pode provocar uma crise na mesma, pois exige a tarefa de renúncia, de excluir e incluir novos papéis na cena familiar. Contudo isso não segue uma regra fixa, como já fora colocado, pois algumas crenças sobre o luto podem afetar profundamente esse processo que é individual, pessoal e única.
Para cada enlutado, sua perda é a pior, a mais difícil. Só a própria pessoa que pode dimensionar sua dor e seus recursos para enfrentá-la. Assim, o tempo e ador do enlutado vai depender dos recursos que ele possui para enfrentar a perda e as necessidades que podem se apresentar.
Tanto para Freud como para Melanie Klein uma das formas da pessoa liberar-se do luto é tendo a prova da realidade. Dessa forma, “existe um período considerado necessário para a pessoa enlutada passar pela experiência da perda. Esse período não pode ser artificialmente prolongado ou reduzido, uma vez que o luto demanda tempo e energia para ser elaborado.” Mascará-lo ou fugir do luto pode causar ansiedade, confusão e depressão. “Costuma-se considerar que o primeiro ano é importantíssimo para que a pessoa enlutada possa passar, pela primeira vez, por experiências e datas significativas, sem a pessoa que morreu.” (Kaplan 1997)
Viver o luto não significa apenas passar por ele, mas crescer aprendendo a conviver com a dor da saudade (não dependência), renovando as energias, nos enriquecendo-nos com um propósito melhor para nós e para o mundo. “Alem de entender na mente vai entender no coração que a pessoa não está mais entre nós. E apesar de nunca ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida.”
Alguns rituais ajudam na elaboração dessa perda como o ritual fúnebre de velar e enterrar. O uso de determinadas cores nas roupas para demonstrar os sentimentos de pêsames.
“A perda é para sempre, o luto não.”