Iniciando uma reflexão sobre relacionamentos: conhecer-se, comunicar-se e estabelecer troca.
Somente damos sentindo a nossa existência quando nos relacionamos. É através da existência do outro que vamos construindo o sentido de nós mesmos. E é na vivencia com a diferença que podemos ser quem somos.
Antes mesmo de nascermos já experenciamos nosso relacionar com o mundo. E a princípio nosso mundo é simples e pleno: nossa mãe.
Nossa primeira relação. Essa que deveria ser simples e primária, ao contrário, é a mais importante da nossa vida. É a que marca toda a nossa existência. É a partir dessa primeira que iremos moldar toda e qualquer outra relação que tivermos.
É a mãe que nos apresenta o mundo. É através da lente dela que moldaremos o mundo. É a mãe que dá o “tom” do mundo. Se ela o vê hostil e ameaçador ou se e ela o apresenta um mundo seguro e belo, assim o bebê o verá. Mais ainda, é ela que nos apresenta a nós mesmos. Essa é a primeira relação mágica que vivenciamos. Antes mesmo de o filho ter um sentindo no mundo, a mãe o vê nele. E ela só consegue fazê-lo à medida que consegue nos reconhecer como um ser separado dela.
Esse movimento simultâneo e conjunto de fundir-se e diferenciar-se é mágico e maravilhoso. Simples e complexo. Comunica o passado com o presente com a oportunidade de reintegração das experiências, sensações e sentimentos peculiares dessa fase, num movimento regressivo da mãe na direção de suas próprias experiências enquanto bebê e das memórias acumuladas ao longo da vida, concernentes ao cuidado e proteção de crianças.
É dessa relação saudável entre mãe e bebê que nasce a possibilidade de emergir toda a potencialidade nata do indivíduo ao amadurecer. A dificuldade em ser saudável está justamente na comunicação que será estabelecida entre ambos: mãe e bebê. Está no reconhecimento das peculiaridades de cada ser, de cada manifestação. A cada novo ser que nasce, adentramos num novo universo.
Cabe a mãe desbravar essas sutilezas e decodificar os símbolos de cada gesto, som e de cada olhar e estabelecer contato, interagir e efetuar algum tipo de troca, oferecendo um ambiente seguro e acolhedor para esse novo ser.
Mãe e bebê quando em sintonia, vivenciam um momento único e sublime. A mãe abstém de si mesma em grande parte para dedicar ao seu filho toda a atenção, suprindo as necessidades de alimentação, higiene e acalento (segurança), criando condições para manifestação de unidade entre mãe e bebê. Essa condição, que alguns autores chamam de “a majestade o bebê” fundamenta o desenvolvimento, amadurecimento emocional-afetivo do bebê. É nessa comunicação acolhedora que ocorre a integração soma (organismo físico) / psique do bebê, na qual ele inicia o auto-reconhecimento.
Ao começar o reconhecer-se, o bebê rompe a fusão e ambos terão que suportar a gradativa evolução da dependência total para a dependência relativa. Isso é o amadurecimento. É a separação relativa que gera força da existência, não para o isolamento, mas para a possibilidade de formarem outros relacionamentos, baseados na visão primordial do mundo que nos foi apresentado e construído.
Texto embasado embasado na teoria de desenvolvimento de Donald Woods Winnicott, pediatra e psicólogo(1896- 1971)
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