“...Nossa ira
controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo”
Mahatma Ganghi
Emoções... Por vezes
difíceis de serem distinguidas, percebidas, entendidas, aceitas e muitas vezes,
controladas. Mas, a verdade é que ela sempre está a nos rondar, influenciando
nossas ações e interpretações dos fatos, queiramos ou não. Percebemos ou não.
Quem controla quem?
Embaraçoso dizer, mas a maioria se deixa levar pelas emoções e a culpabiliza
pelos seus atos, às vezes insanos. Outros creem que as têm sobre seu poder, mas
apenas deslocam sua manifestação, que indiretamente e inconscientemente, se
voltam contra quem às sente. Aparecem as doenças psicossomáticas.
Uma grande confusão, é
fácil e frequentemente feita: sentimento e emoção, não são a mesma coisa. “Um
sentimento é a construção de uma estrutura emocional vivenciada”. As emoções
são respostas neuro-hormonais e os sentimentos são essas emoções refletidas,
analisadas e conceitualizadas, podendo haver transformações na forma do
individua se relacionar com o meio.
Algumas emoções são
inerentes ao ser humano. Todo e qualquer ser humano as sentem, mesmo quando
quer nega-las. Uma delas é a raiva. Todos sentem em algum momento da vida. E os
ditos populares são partes de verdade e expressam muito bem alguns fatos, por
exemplo, “ninguém gosta de engolir sapo”. Neste caso, o sapo ao qual se refere,
é a raiva. E quando não engolida e nem analisada, acaba por causar estragos no
meio, nos relacionamentos e muitas vezes sendo até perigosa por levar à ações
violentas e impensadas, o que é pior. Contudo, igualmente péssimo é quando a
raiva engolida. Porém, agora o estrago é contra quem as sente, atacando o
coração através de uma hipertensão, a tireoide, os rins e até mesmo, propiciando
um pacote completo de todas essas doenças e mais outras, algumas irreversíveis,
como a diabetes, com a obesidade.
Sim, a raiva engorda! Além
de a raiva acelerar a produção da adrenalina, o que nos prepara para fuga ou
ataque, “na raiva ocorre uma elevação do açúcar no sangue, numa antecipação” ao
gasto calórico necessário para o consumo dos músculos em uma das ações já citadas,
ocasionando também um desequilíbrio da fome/saciedade.
Aqui gostaria de fazer uma
distinção, que julgo importante. A emoção é a reação neuro-hormonal de um fato
ocorrido contra nós. Este fato pode ser a ação de outrem impedindo a realização
de algo que almejamos ou palavras deferidas contra nós.
A nossa resposta a essas
ações, diferencio em: instintivas quando não percebida a tempo de serem
analisada e refletidas provocando manifestações inadequadas de ações de
agressividade verbal, fugindo ou atacando fisicamente e até mesmo quando nos
paralisamos (a engolimos). E, humanas quando transformadas em sentimentos. As
emoções quando percebidas e analisadas levam a ações construtivas ou não, a
depender do nosso livre-arbítrio, mas não são instintivas, são elaboradas,
planejadas e por isso podendo ser produtivas e criativas.
Chamo de humanas porque
apenas nos humanos possuímos o córtex pré-frontal no qual ocorrem as ações
intelectuais e racionais. Porém, para que esse trânsito químico-hormonal todo
seja realizado, é necessário que o autor das emoções tenha um olhar interno, no
qual consiga se aperceber das próprias emoções, as matrizes biológicas, a tempo
de desviar o transito da ação para o pensamento, impedindo o prejuízo para si
mesmo.
Quando não acionamos,
através do pensar, do raciocínio o córtex pré-frontal, o hipotálamo, estrutura
que regula o sistema endócrino e além do equilíbrio da pressão arterial, fome,
saciedade e desejo sexual, trabalha em desarmonia as impressões sensitivas
internas e externas não obtendo uma resposta adequada, deixando de ser
construtiva.
Assim sendo, se não
quisermos adoecer, ao nos darmos conta de alguma sensação, usemos do tempo para
reconhecermos qual emoção sentimos, analisarmos o que ela quer nos dizer e por
fim, pensarmos na melhor estratégia a ser usada.
Podemos planejar uma ação
vingativa, como Hitler, mas essa, ainda que pareça satisfatória, é apenas
momentânea e novamente a insatisfação se voltará contra si. Ou podemos, como
muitos líderes, Thomas Edison, Charlie Chaplin e outros que usaram a raiva por
ter vivenciado historias trágicas para alavancarem sua vida. Mas para tal é
preciso senti-la, reconhecê-la e transformá-la, criando algo que lhe agrade.
Fonte: Psiquê Ano IV No. 80 João Oliveira