Nos últimos dias esse assunto ganhou manchetes no Brasil, depois que o governo federal decidiu transformar o “tapa pedagógico” e castigos físicos em crime. Talvez, alguns tenham refletido sobre o assunto, outros não.
Essa questão por si só já se apresenta tão antagônica, e a meu ver, segue a mesma lógica que permeia criar e manter um departamento de Guerra para defender a Paz.
Achei muito interessante a matéria da capa da Revista Veja deste mês: “Palmadinha fora da Lei”, na qual percorre a história dos castigos físicos iniciada pelos Esparta como recurso na educação de meninos e moços. Naquela época “uma vez ao ano, os meninos eram chicoteados na frente do altar dedicado à deusa Ártemis, protetora da caça e da cidade, num ritual que visava a premiar os mais resistentes.” Esparta desapareceu, mas os castigos sobreviveram.
Naquela época, suportar a dor física era mais uma questão de sobrevivência futura, na qual a resistência física era essencial, do que de educação moral.
Ao longo de trinta anos a Universidade de São Paulo realizou pesquisas com crianças que sofriam castigos físicos na infância e concluíram que essas crianças chegavam à vida adulta, traumatizadas e se mostravam mais agressivas em situações corriqueiras do dia-a-dia”. Também sabemos que as crianças tendem a fazer aquilo que fazemos e não aquilo que falamos para fazerem. Assim sendo, nossas atitudes são mais educativas do que nossa fala.
E plagiando Rosely Sayão “educar é introduzir criança ao mundo do convívio civilizado. Bater, portanto, não faz o menor sentido”.
É possível educar sem usar de força física ou aplicar sansões humilhantes. Isso, porém não quer dizer que as crianças e jovens possam fazer o que bem entendam, entregando-se aos seus impulsos e caprichos, sem precisarem de limite. Alias, dar limites é um ato de amor. Mas para isso é necessário que o educador tenha autocontrole e tenham a segurança de manter-se firme na sua decisão.
Na minha concepção o tal “tapa pedagógico” deveria ser usado em último recurso e em situações de perigo eminente, mas como toda sensação de poder vicia, pode acabar sendo usado fora desse contexto. Como toda lei de difícil aferição e controle, sua existência pode incorrer em abuso, em uso distorcido. Para que isso não ocorra, novamente caímos na mesma questão, vamos punir o mau uso do excesso de agressão com outra agressão? Para que essa nova lei nem precise ser usada será necessário um trabalho de conscientização do desenvolvimento humano. E quem faria isso e em qual momento da vida dos pais?
Dados retirados da Veja ed. 2174 ano 43 nº29 e do encarte equilíbrio assinado por Rosely Sayão da Folha de SP de 27 jul./10
Dados retirados da Veja ed. 2174 ano 43 nº29 e do encarte equilíbrio assinado por Rosely Sayão da Folha de SP de 27 jul./10