quarta-feira, 23 de março de 2011

O corpo como espelho d'alma


Apesar de poético, os olhos, não são os únicos a refletir a alma. Nosso corpo, como um todo, reflete nossa alma. Ele expressa todos nossos sentimentos, até mesmo aqueles que ainda não temos total consciencia, seja externamente, na nossa aparência ou internamente pela doenças.
Essa frase de Aristóteles explicita muito bem a ligação intrínseca do emocional com o corpo. E como coloca Ajuriaguerra: “determinadas dificuldades de natureza psicológica estão sempre presentes, podendo estar entre os fatores determinantes na obesidade exógena ou ser conseqüente à obesidade endógena”.

No ato de comer são constituídos de outro significado além da supressão das necessidades biológicas de sobrevivência. Também são imbuídos de uma carga emocional e psicológica, explicando porque muitas vezes não nos apercebemos das escolhas e da quantidade que ingerimos.
O significado emocional do alimento começa a ser construído com o mamar e na relação da mãe ou cuidadora com o bebê. Geralmente uma psicodinâmica perturbada entre mãe e filho favorece a deficiências de ego no filho, levando a uma fraca autonomia e fraco autocontrole produzindo padrões alimentares desordenados. Essa dinâmica reverbera na família, nas quais encontramos além da obesidade, um grande número de familiares com depressão, alcoólatras e ainda uso de alguma droga ilícita. (Cintra, 2007)
O modo como cada obeso se relaciona com a comida é único e é importante ser detectado. A conscientização desse lugar que a comida ocupa poderá possibilitar mudanças nessa relação e o reconciliamento com o corpo até então rejeitado e agredido, reflexo de um processo interior envolto em conflitos.

Descreio que ainda hoje há alguém que engorde por ignorância, preguiça ou por desleixo, porque ninguém é gordo porque quer e encontramos pessoas obesas muitas vezes mais ativas e vaidosas do que algumas pessoas de peso normal. Mas, considero que a obesidade foi adquirida como forma de defesa, construída por conceitos e crenças distorcidas ou ainda por questões inconscientes.

Geralmente, o “pensamento gordo” é oito ou oitenta, tem sempre presente o radicalismo. Não existe moderação e não aceita escorregões. Se “saí da linha” na dieta ao invés de corrigi-la e seguir, a abandona ou quando está de dieta, jejua.
Pessoas com transtornos alimentares e/ou os obesos tem uma grande dificuldade com a imagem corporal, o qual acaba retardando o início do tratamento para emagrecer. Existe uma dificuldade em se perceber com excesso de peso, mesmo ao olhar-se no espelho.
Em quase todos os casos de excesso de peso, a pessoa parece viver uma lacuna no tempo não percebendo o engordar. Isso dificulta um comprometimento com o emagrecimento e leva a um imediatismo, responsável por muitos dos abandonos de tratamentos clínicos.

O tratamento global para a obesidade implica na reparação dessa cisão, na qual muitos profissionais da área de saúde insistem em manter, tratando só o corpo ou só a mente. Podemos dizer que o sintoma obesidade se expressa externamente, mas reflete todo um modo de funcionar de um ser integral que para ser tratado NÃO deve ser cindido.
Para que ocorra um emagrecimento a contento é necessário que a pessoa consiga abrir mão de sua forma obesa e dos benefícios que a "capa" de gordura fornece enquanto defesa.
A maior parte dos pacientes permanece no papel passivo e projeta o insucesso na perda de peso ou na manutenção do peso perdido no tratamento e no profissional escolhido, buscando atingir um peso “idealizado”. Buscam alcançá-lo através da troca de profissionais e alternando técnicas e tratamentos, chegando algumas vezes até na busca de reoperações e reparações, isentando-se das responsabilidades sobre a vivência transformadora da criação de uma nova identidade. Querem ser emagrecidos e não emagrecer.
Insisto em dizer que não encontramos uma única personalidade ou uma estrutura mental da pessoa obesa, mas possibilidades interligadas que facilitam a expressão de algo que não está bem, algum sentimento ou conflitos que por alguma razão, não conseguem ser simbolizados em pensamento, fantasiado e/ou expresso pela via da linguagem, manifestando-se no corpo pela obesidade.
 
 
Quer saber mais sobre obesidade acesse ABC da Obesidade: http://acessa.me/b5hs

E leia: http://migre.me/6d9ci



quinta-feira, 3 de março de 2011

Carnaval

Inspirada pelo meu amigo @4talesa e seu texto sobre fantasias, resolvi também falar das fantasias.
 
Todos têm fantasias e é no Carnaval que podemos “soltar a franga” e extravasá-la, fazendo-nos acreditar, mesmo que por um breve momento, que somos quem vestimos. Brincamos e nos divertimos... Depois nos despimos e voltamos à nossa realidade. Até aí nada de mais. O problema começa quando nos esquecemos de tirar a fantasia e pensamos ser o que não somos ou queremos viver um personagem o tempo todo. E aqui uso a idéia de fantasia que o Rondinelli usou. Não a fantasia de personagens, mas a fantasia dos vários papeis sociais que vivenciamos no nosso dia-a-dia e nos esquecemos de despir.

Em termos Junguianos é quando a Persona (“Rosto que usamos para o encontro com o mundo social que nos cerca”- Murray Stein) se apodera do Eu. Quando a pessoa sofre uma despersonificação, assumindo apenas, e em qualquer lugar e momento, o título que lhe confere a profissão ou o estado civil. Aí encontramos pessoas que mesmo fora do seu ambiente de trabalho ainda se apresentam como professor ou Dr. Fulano de tal ou como a fulana mãe, esposa, irmã ou filha de beltrano.
 
São pessoas que não se sentem confiantes de se assumirem sem seus títulos e se confundem com aqueles ou aquilo que representa, já que podem usar a roupagem do cargo que ocupam, da condição financeira ou até mesmo da beleza física.

Essas fantasias não usam para brincar e se divertirem. Mesmo acabando o carnaval, não se despem, seguem dependentes e muitas vezes, inconscientes de tal ato e de quem realmente são.

A Persona, essa “máscara” social é necessária para nos ambientarmos nas diferentes situações e necessidades sociais, contudo ainda sim sabemos quem somos, do que gostamos ou o que queremos. Quando assim fazemos, usando-a de forma propositada, mantemos a mobilidade e a liberdade de expor nossa real personalidade quando alterados alguns padrões sem medo e sem vergonha, mudando o figurino sem prejuízo de quem somos.

Quando não nos despimos desse traje, escolhido, cortado e feito em função das expectativas alheias para sermos aceito, ele acaba por oprimir, causando grande mal-estar a aquele que o veste.


Saiba mais sobre o Carnaval: http://migre.me/7EdB6