quarta-feira, 13 de abril de 2011

Amor também é ciência


Inspirada pela crônica e indignação de Antonio Prata, da Folha de S.Paulo, escrevo tentando esclarecer que o amor também é ciência e estudado. De certo que não são gastos as mesmas cifras gastas às cerdas e ergonômetria das escovas de dentes. Contudo, creio eu, que enormes horas de trabalho de cérebros tão talentosos quanto aqueles da química, da física e de outras tantas outras ciências também foram aplicadas no estudo sobre o amor

Desenvolver uma escova “high-tech da assepsia bucal” pode parecer “fichinha” diante da complexidade que envolve as relações humanas, principalmente a amorosa. Quando estudamos um objeto, no caso, a escova de dente, estamos falando de um produto único, mesmo considerando os diversos modelos e marcas. Falamos de um. Ao falarmos de uma relação nossa equação matemática é outra. Falamos de um grupo, mesmo que seja apenas dois. Mesmo se falássemos de indivíduo, único, suas peculiaridades já seriam bem mais complexas que as escovas de dentes. Mesmo considerando as variações de modelos e marcas que corresponderiam as diferenças individuais, a diversidade humana no que se refere à personalidade já é bem mais rebuscada que escovas de dentes, mas ainda assim podemos usar uma equação matemática simples. Nas relações a equação em questão é de nível médio, sendo necessário usarmos matrizes, determinantes e variáveis. E são essas variáveis que complicam tudo em todas as ciências envolvidas no estudo do amor. Nada é exato, concreto e nem sempre os resultados serão os mesmos quando expostos situações semelhantes. Trabalhamos com o abstrato, subjetivo, subliminar, individual e inconsciente, apesar de termos pelo menos dois no grupo. Socorro!!!! Peço a ajuda da sociologia, da língua portuguesa, da história, da comunicação, da química, da biologia, medicina, da neurociência e da psicologia. Com certeza precisarei de outras que ainda não citei.


A palavra relacionamento provavelmente vem de a palavra relacionar: Estabelecer relação ou analogia entre coisas diferentes. Assim sendo, o relacionamento entre pessoas é a forma como eles se tratam e se comunicam.


O trato às pessoas envolve conceitos, culturas, educações e valores diferentes que podem até se chocarem. Isso sem considerarmos as histórias de vida de cada um que originam os traumas e complexos, estopins de muitas discuções e brigas.


Algo que parece mais simples do que o trato, a comunicação, é um processo que envolve a troca de informações que envolvem símbolos como suporte para este fim: gestos de mãos, fala, escrita e outros que permitem interagir e efetuar algum tipo de troca.


Aqui já encontramos pelo menos duas dificuldades. A primeira é preciso interagir. Para isso os envolvidos precisam querer, ato volitivo, voluntário e espontâneo, no qual o outro não exerce força. Pode até influenciar, mas não terá o controle total do querer do outro. A segunda deve haver troca. Troca é troca. Um dá e o outro recebe. Parece simples, mas é ledo engano. Misturam-se com as expectativas, possibilidades e novamente o querer de cada um. Isso sem considerarmos o individualismo de cada um. E não falo da individualidade de cada um, saudável e necessária apara o bom desenvolvimento do ser humano. Falo do egoísmo.


Antes de partirmos para outras ciências, nos atentando ainda um pouco mais no ato de se comunicar, para a semiótica comunicar-se é a materialização do pensamento/sentimento. Ferrou! Ou seja, antes mesmo de comunicar-me com alguém, e veja bem, isso precede relacionar-se, devo estar ciente dos meus pensamentos e sentimentos. Quem está? Vivemos cada vez mais num ritmo e num mundo voltado para as exigências do externo, do cumprimento de metas, horários e prazos e negligenciamos a nos mesmos.
Como você pode perceber estudar o amor é deveras oneroso e trabalhoso tendo que ser feito cuidadosamente para que uma ciência não se sobreponha a outra, para que os românticos e os revolucionários não percam a ilusão da magia e a ausência das tecnocracias e para que as relações não sejam ausentes de discuções.


Pode parecer sadismo ou masoquismo, mas atritos nas relações são importantes e necessários. Uma DR (discução de relação) é que nos faz sair do invólucro do egoísmo, é uma tentativa de atentarmos também para a necessidade do outro. É a possibilidade de olharmos para nossas mazelas. É a chance de melhorarmo-nos como pessoa e como ser humano.


Talvez Pontes, por essa perspectiva e com um pouco de criatividade(capacidade dotada apenas aos humanos), seja mais romântico discutir na cozinha, às duas e meia da manhã as necessidades amorosas do casal.