terça-feira, 27 de julho de 2010

Bater para Educar?

Nos últimos dias esse assunto ganhou manchetes no Brasil, depois que o governo federal decidiu transformar o “tapa pedagógico” e castigos físicos em crime. Talvez, alguns tenham refletido sobre o assunto, outros não.

Essa questão por si só já se apresenta tão antagônica, e a meu ver, segue a mesma lógica que permeia criar e manter um departamento de Guerra para defender a Paz.

Achei muito interessante a matéria da capa da Revista Veja deste mês: “Palmadinha fora da Lei”, na qual percorre a história dos castigos físicos iniciada pelos Esparta como recurso na educação de meninos e moços. Naquela época “uma vez ao ano, os meninos eram chicoteados na frente do altar dedicado à deusa Ártemis, protetora da caça e da cidade, num ritual que visava a premiar os mais resistentes.” Esparta desapareceu, mas os castigos sobreviveram.

Naquela época, suportar a dor física era mais uma questão de sobrevivência futura, na qual a resistência física era essencial, do que de educação moral.

Ao longo de trinta anos a Universidade de São Paulo realizou pesquisas com crianças que sofriam castigos físicos na infância e concluíram que essas crianças chegavam à vida adulta, traumatizadas e se mostravam mais agressivas em situações corriqueiras do dia-a-dia”. Também sabemos que as crianças tendem a fazer aquilo que fazemos e não aquilo que falamos para fazerem. Assim sendo, nossas atitudes são mais educativas do que nossa fala.

E plagiando Rosely Sayão “educar é introduzir criança ao mundo do convívio civilizado. Bater, portanto, não faz o menor sentido”.

É possível educar sem usar de força física ou aplicar sansões humilhantes. Isso, porém não quer dizer que as crianças e jovens possam fazer o que bem entendam, entregando-se aos seus impulsos e caprichos, sem precisarem de limite. Alias, dar limites é um ato de amor. Mas para isso é necessário que o educador tenha autocontrole e tenham a segurança de manter-se firme na sua decisão.

Na minha concepção o tal “tapa pedagógico” deveria ser usado em último recurso e em situações de perigo eminente, mas como toda sensação de poder vicia, pode acabar sendo usado fora desse contexto. Como toda lei de difícil aferição e controle, sua existência pode incorrer em abuso, em uso distorcido. Para que isso não ocorra, novamente caímos na mesma questão, vamos punir o mau uso do excesso de agressão com outra agressão? Para que essa nova lei nem precise ser usada será necessário um trabalho de conscientização do desenvolvimento humano. E quem faria isso e em qual momento da vida dos pais?


Dados retirados da Veja ed. 2174 ano 43 nº29 e do encarte equilíbrio assinado por Rosely Sayão da Folha de SP de 27 jul./10

7 comentários:

Sandro Salomon disse...

Se a mão que dá o tapa é a mesma que dá carinho,protege, dá o pão , a roupa,o teto pra morar, não existe problema algum.

Ana Beatriz Cintra disse...

É preciso ter coerência nos atos. Transitar entre as polaridades pode ser perigoso, caminho fácil para patologias.
Creio que quem tem autoridade não necessita bater e se um vinculo de respeito foi criado não haverá lugar para palmadas.

Sandro Salomon disse...

Se o pai e a mãe não tiverem autoridade sobre os filhos, quem vai entrar em cena vai ser o traficante, o marginal, o grupinho da rua, do bairro.Dar um tapinha na bunda não traumatiza e mata ninguém.

Ana Beatriz Cintra disse...

Autoridade não é força física. Autoridade deve ser formada pelo respeito e admiração. A grande questão não é "um tapinha na bunda" para educar, mas quando o tapa é usado, propositadamente para humilhar, como meio de mostrar força, descarregar ira ou por desequilibrio do educador.
Já é sabido que violência gera violência. E isso não se refere a violência dos filmes, desenhos ou até mesmo das cantigas infantis.
Ela é aprendida na vivencia, pelos exemplos dos educadores.

Sandro Salomon disse...

A senhora é suficientemente inteligente para saber distiguir violência física do "tapa pedagógico".Pessoas equilibradas usam o "tapinha" para educar. Claro que somos contra espancamento e humilhação de menores, ninguém é maluco aqui.

Estou gostando do diálogo. um bom dia!

Ana Beatriz Cintra disse...

Sandro, eu sei muito bem distinguir e tenho certeza que você também sabe, contudo esse blog é público e não sabemos se todos que o leem sabem distiguir um "tapinha na bunda" educativo, ou irá se esconder na prerrogativa da educação para justificar o descontrole. Sendo assim, o quanto mais claro e esclarecido deixarmos, melhor será.
Afinal, assim age um bom educador, não é?

Sandro Salomon disse...

Ok! Parece que não faz muito sentido mesmo ficar debatendo sobre esse assunto.

Já que ninguém possui um "tapômetro" para medir o grau de intensidade de um tapa, o melhor seria mesmo deixar para o pai e a mãe educarem os filhos como melhor convém a eles.

Mas numa sociedade onde a família, está se desestruturando, a figura dos pais não está presente na vida de milhares de crianças.