sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Amor Materno


Ao falarmos do “amor materno” vale a pena reconstituir alguns capítulos da história pra entendermos melhor suas características e o momento atual.
Segundo a tradição Cristã, há duas imagens básicas do feminino e da maternidade: Eva, a mulher demoníaca que personificaram a tentação. Mulher erotizada que simboliza as forças perigosas e pecaminosas da mulher. Embora, como primeira mulher, seja a mãe de todos nós, sua imagem está associada ao castigo (expulsão do paraíso), aos vícios que trazem símbolos tidos como femininos, luxuria, gula, sensualidade e a sexualidade. Assim sendo, a única função da mulher Eva, dominada pelos sentidos e os desejos da carne é procriar.
A função da maternagem está associada à Maria, que concebeu sem pecado (sem sexo) e é considerada um exemplo de pureza, dedicação, humildade e amor, retratando a mulher na plenitude de seu papel de mãe.
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que desde muitos séculos, a fecundidade é tida como uma benção divina, ao passo que a infertilidade é tida como castigo. Mas somente a partir do século XI com a instituição do casamento pela Igreja, a maternidade e o papel da boa esposa passaram a serem exaltados.
Essa breve revisão histórica abre espaço para refletirmos a existência de um “instinto materno” nato e o desejo e necessidade que a maioria das mulheres tem de gerar filhos. Vários fatores, como crenças, educação, desejo de continuidade e/ou mente coletiva podem ser considerados uma vez que a participação direta da mãe na criação de seu filho é algo, relativamente recente, na história da civilização ocidental. Até o século XVIII, predominava o costume de confiar o recém-nascido a uma ama-de-leite durante os primeiros anos de vida. Ou seja, predominava uma conduta de indiferença materna. Daí conclui-se que o “amor materno” não é um instinto, mas um sentimento que como todos os outros, está sujeito a imperfeições, oscilações e modificações, podendo manifestar-se com um filho ou com todos. Assim, a existência do amor materno depende não só da história pessoal da mãe, como também do memento historio da época, da própria História.
O fato das amas-de-leite cuidarem de um grande número de bebês de maneira inadequada levou a um alto índice de mortalidade infantil. E ainda por ser comum a aceitação de filhos ilegítimos dilacerando o patrimônio familiar, passou-se a defender a importância da mãe na transmissão de valores e princípios religiosos e educacionais, na primeira infância, ou seja, até os sete anos de idade. Depois disso, a criança pertenceria ao mundo adulto.
A maternidade passa a ter, não só uma função biológica, mas também uma função social. E para que houvesse essa mudança de comportamento iniciam-se os discursos filosóficos, médicos e políticos defendendo o “amor materno”, valorizando o vinculo afetivo derivado do contato físico entre mãe e filho. A mãe no século XVIII é auxiliar dos médicos. No século XIX, colaboradora dos religiosos e dos professores. E a mãe do século XX assume a responsabilidade de cuidar do inconsciente e da saúde emocional dos filhos.
E no século XXI, qual o papel e importância da mãe na vida dos filhos?



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Um comentário:

Tia Dea disse...

Bia
Parabéns!Compactuo com a idéia de que o amor materno não é instinto. A procriação e guarda da cria sim, é instinto.
Entendo o amor como construção, e não seria diferente na relação mãe/filho. Acredito que para muitos, amar alguém que invade sua casa tirando tudo do lugar pode ser muito difícil.
Penso que existam mulheres que são mais generosas, com potencialidade de proteção maior que outras, o que as faz mães mais habilidosas.
Para você que também é mãe, parabéns pelo desafio diário da conquista e doação.
Um beijo