segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Incoerências: Álcool e juventude


Pela própria natureza, a adolescência é caracterizada por uma fase de formação da personalidade, de mudanças e de descobertas. Essa busca de uma identidade própria passa por uma crise psicológica, uma crise existencial na busca de num lugar, de um agir social. Essas mudanças são vividas por cada um de forma diferente, porém sofre influência dos outros externos. Uma das características do final da adolescência é a inserção no mundo adulto, assumindo funções e responsabilidades de adultos. Porém, os jovens vivem um processo: “a síndrome da adolescência normal” com crises religiosas, vivenciam uma atemporalidade dos fatos, mas de fortes convicções baseados nos seus “achismos”. Expressão seus sentimentos de maneira dramática e intensa: “para sempre” que dura uma semana, um mês. Amam quando tem apenas afinidade, tudo é mais, é maior.

Ainda, nessa fase buscam um herói a seguir. Este pode ser um ídolo musical da época, um escritor, ator ou esportista para depois “criarem” ou definirem seu estilo próprio. Assim se tornam cobiça e presa do “mercado potencial”, no qual as indústrias investem pesado com campanhas de marketing.

Estudo recente analisou 420 horas de programação televisiva e constatou que a maioria das propagandas alcoólicas aparece durante programas esportivos, com ao menos 10% de audiência de adolescentes. Não houve nenhum programa esportivo sem bebidas alcoólicas entre os anúncios.

Apesar de algumas conquistas na área da saúde pública, ainda há muito a ser feito. A guerra com a indústria do tabaco aos poucos está sendo vencida. As pessoas estão fumando menos e com isso o número de mortes associadas ao fumo vem caindo. O cuidado com alimentação e mais preocupação com a prática de exercícios físicos, há menos mortes por doenças do coração.

Pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostrou que o número de fumantes e de jovens que bebem teve queda entre os estudantes do Brasil, contudo o país ainda apresenta indecentes índices: 30% dos estudantes da cidade de São Paulo ficam “altos”, “de porre” pelo menos uma vez no mês. Os jovens cada vez mais estão começando a beber mais cedo. Garotos e garotas com 14 e 17 anos de idade são responsáveis por 6% de todo o consumo anual de álcool, ainda que seja proibido por lei o consumo por menores de idade. Essa alta incidência de jovens abusando do álcool mostra-se um risco social, pois é sabido que o álcool é uma das portas de entradas de “drogas leves” como a maconha que leva a outras “drogas menos leves”. E as drogas colocam em risco outros programas sociais como a prevenção de gravidez precoce. “Poucas coisas são tão socialmente devastadoras como a gravidez precoce, que subtrai da mãe a chance de prosperar e condena o filho à vulnerabilidade, mantendo o círculo vicioso da miséria.” Aumenta o risco de futuramente termos mais adultos etílicos. Além de demonstrar e habituar uma conduta inconsciente de aprovação ao “porre” (crise de ingestão), que em muitos casos está relacionada com atos de violência, acidentes, sexo desprotegido e conseqüentemente maior risco de adquirir DST, além de provocar doenças hepáticas irreversíveis e dano cerebral pelo excesso de álcool.

Portanto, prevenção é fundamental. Assim como coibir o uso da imagem de atletas bem sucedidos, técnicos e principalmente jogadores de futebol que vincula bastante sua imagem a da cerveja. Como diz: Carlos Salgado, psiquiatra, presidente da Abead, “é necessário combater a idéia de que futebol é um espetáculo movido a cerveja e que beber é o “esporte” dos jovens”. Pelo contrário, a droga amplifica a rivalidade, exalta os ânimos e a tensão entre torcedores.

Fonte: Folha de São Paulo, Gilberto Dimenstein e Carlos Salgado



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